Novos tempos, novos desafios organizacionais
É preciso ter coragem para reavaliar e ajustarmos a nossa rota, porque a pandemia nos tornou adultos inéditos
*Por Jo Lima
Publicado em 23 fevereiro, 2021
Quando a pandemia começou, as empresas brasileiras estavam trabalhando em meio a uma verdadeira obsessão por racionalidade, produtividade, excelência, eficiência, como se os acontecimentos fossem previsíveis e as pessoas fossem verdadeiras máquinas humanas, que não sentem, não sofrem e não têm dúvidas existenciais. Passados praticamente 12 meses do início da pandemia, me parece que pouco foi aprendido, pouco foi repensado e persiste uma gestão de equipes desassociada da realidade caótica que estamos vivendo.
É preciso ter coragem para reavaliar e ajustarmos a nossa rota, porque a pandemia nos tornou adultos inéditos e precisamos ter em mente que agora estamos fazendo um caminho sem GPS. Aliás, nós somos o nosso GPS.
No meu dia a dia de trabalho, recebo, costumeiramente, relatos de profissionais que já participaram dos meus cursos e palestras me sinalizando que estão trabalhando em média 14 horas por dia para dar conta das suas entregas profissionais, que estão tendo pouquíssimas trocas com seus gestores e isso tudo trabalhando em home office, que aqui no Brasil nós precisamos reconhecer que não passa de uma gambiarra, porque, de fato, poucos são os profissionais que têm em seu lar o mínimo de ergonomia, internet de qualidade e condições de trabalho que possibilitem a atividade laboral próximo do que faria no ambiente organizacional.
Quando os gestores e as gestoras ignoram o contexto de vida dos seus colaboradores e negam que a pandemia está afetando todas as dimensões da vida dos integrantes da sua empresa e que todos estamos vivendo sob a égide do medo, da incerteza e de constantes disrupturas, eles passam a sufocar atributos fantásticos que a equipe dele precisa ter, especialmente se almejamos ter um time de alto desempenho. São eles: espontaneidade, criatividade, resiliência, confiança, leveza, originalidade, compaixão e espírito de equipe.
Infelizmente, precisamos reconhecer que há um número significativo de pessoas que hoje estão em cargos de gestão e pensam que podem ter controle sobre tudo e todos, desconhecendo que é justamente a autonomia que faz florescer na equipe novas lideranças, novas formas de construirmos soluções e ganho de sinergia.
Ao assumirmos a gestão de uma equipe, devemos nos dedicar a desenvolver a nossa liderança, que de modo algum é um cargo. A liderança é uma postura de vida que não anula a subjetividade e a criatividade, que percebe a importância do processo emocional oriundo de um trabalho em equipe, que respeita a singularidade de cada integrante do time, trabalha com as forças de cada um e não fica enaltecendo as fraquezas dos integrantes da equipe.
Quando eliminamos a subjetividade, acabamos por anular a nós mesmos, porque perdemos a noção de que as pessoas têm sentimentos e não podem e não devem trabalhar desassociados das suas crenças, valores e emoções.
Vivemos ansiosos, sob a pressão do relógio e acabamos adoecendo e causando adoecimento naqueles que gerenciamos por calcular tudo, desde o tempo, até as respostas que já prejulgamos receber sem sequer ouvir nossa equipe.
Penso que o principal desafio que os gestores e as gestoras estão enfrentando agora é justamente escolher facilmente a comodidade de chefiar, simplificando a realidade ou assumir a grande responsabilidade que é liderar. Uma escolha que exige de nós um propósito que vai além de nós mesmos, que nos faz levantar da nossa cama independente das circunstâncias e que nos mobiliza a seguir em frente, tendo claro que não nos bastamos e que é em equipe que vamos alcançar grandes metas.
“Quem tem um porquê suporta qualquer como”. Esta frase do filósofo Friedrich Nietzsche retrata bem o que penso sobre o propósito de liderar e das escolhas que fazemos ao longo da nossa vida. Há um preço, há uma carga emocional que muitas das vezes as pessoas que assumem um cargo de gestão desconhecem e, por isso mesmo, acabam sucumbindo às circunstâncias, seja por não ter sido preparada para os desafios oriundos do exercício da liderança, seja por comodismo, seja por medo ou por não ter saúde emocional.
O exercício de liderar não é um ato burocrático, é antes de tudo um ato humano, mesmo que estejamos na era da eficiência. Vejo e convivo com muita gente que trabalha num contexto organizacional esterilizado emocionalmente, um ambiente opressor, que transforma o ser humano em verdadeiras mercadorias. Nesse tipo de contexto, também surge algo devastador, que é a dependência química, o aumento da ansiedade generalizada, fobias, transtornos sociais, o uso de medicamentos, para acordar, para poder dormir, para manter-se concentrado.
Na minha percepção, mais do que nunca as empresas precisam investir em cursos e palestras que visem o fortalecimento emocional das suas equipes, porque nunca vivemos nada próximo do que estamos vivenciando com a pandemia e a segurança psicológica é primordial para a superação dos desafios organizacionais e para que os colaboradores se sintam na agenda da sua empresa, se sintam relevantes, porque a essência da liderança é cuidar de gente.
Reforçando aqui que isolamento social não pressupõe distanciamento emocional e tem muitos gestores e gestoras confundindo estes dois conceitos. Nós podemos estar perto emocionalmente mesmo estando longe fisicamente. Isto é uma escolha e eu faço votos, que se você está num cargo de gestão, tenha plena consciência de que a fragilidade e a insegurança deste momento vão perdurar e você precisa investir no principal ativo da sua empresa que são as pessoas.
Os verdadeiros líderes compreendem que talento ganha jogo, mas só um time ganha campeonatos. É em time que mantemos a união mesmo em um momento de dificuldades, sem perdermos de vista o nosso propósito, a nossa essência.
E se você quiser saber mais sobre liderança, resiliência, fortalecimento emocional e competências dos profissionais do futuro, eu convido você a se inscrever no meu canal no Youtube: Jo Lima Educação Corporativa.
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